Na Grécia Antiga, doulas eram, habitualmente, as escravas e, por isso, com a atribuição de uma conotação negativa ao termo, este acabou por cair em desuso. Foi Dana Raphael, antropologista americana, que, em 1976, voltou a popularizar a doula. No seu livro The Tender Gift: Breastfeeding, a autora defendia que a presença de uma mulher que apoiasse a mãe a nível físico e emocional podia ter benefícios muito grandes durante a gravidez, parto e pós-parto.
Mais tarde, Marshal Klaus, Phillys Klaus e John Kennel, neonatologistas pioneiros da defesa da vinculação entre mães e bebés, realizaram um estudo que procurava analisar o efeito da presença da doula ao lado da grávida, durante o parto e o pós-parto imediato. Os resultados deste estudo abonaram a favor da doula, mostrando que é possível reduzir a taxa de cesarianas em 50%, administrar menos 60% de analgesias epidurais e reduzir em 25% a duração do trabalho de parto. No mesmo estudo, ficou provado que uma pessoa acompanhada por uma doula tem menor probabilidade de ter depressão pós parto e maior probabilidade de ver reforçada a vinculação com o seu bebé. Isto reflete-se no aumento do sucesso das taxas de amamentação e satisfação materna.
“Levando-se em consideração os claros benefícios e a ausência de riscos associados com o apoio durante o parto, todos os esforços devem ser feitos para assegurar que qualquer mulher em trabalho de parto receba suporte contínuo, não apenas daqueles próximos a ela, mas também de profissionais treinados. Esse suporte deve incluir presença contínua, conforto pelo toque e encorajamento”. Biblioteca Cochrane de Medicina Baseada em Evidências
Hoje em dia, a doula é, na definição da Rede Portuguesa de Doulas, alguém que compreende a fisiologia do nascimento e que presta apoio emocional e informativo, suportado com evidências científicas, sempre que possível, desde a pré-conceção até ao pós-parto.
Para a Rede Portuguesa de Doulas, "o parto é um evento social, afetivo, físico, sexual e emocional, e no ambiente desconhecido e mecanizado dos grandes hospitais assiste-se a um incremento de medo, ansiedade e dor, que estão profundamente relacionados (um leva ao outro e aumentam-se reciprocamente). Surge assim a necessidade de considerar o apoio emocional e afetivo à grávida em trabalho de parto.". E é desta necessidade que surge a figura da doula.
Apesar de, em Portugal, esta não ser reconhecida como uma profissão, a doula deve ter formação na área, reger-se por um Código de Ética e cumprir com as leis vigentes em Portugal.
Então, e o que é que a doula não faz?
A doula não faz o parto. O parto é um processo da mulher e do bebé.
A doula não pratica qualquer ato médico nem interfere com a equipa médica.
A doula não acompanha qualquer gravidez ou parto que não esteja a ser acompanhada por profissionais de saúde com competências para tal.
A doula não toma decisões pelos clientes.
A doula não empodera grávidas ou casais. O empoderamento é um processo interno e individual.
A doula não garante a humanização do parto, mas defende-a. No entanto, o parto é um processo que diz respeito à pessoa que está a parir e ao bebé que está a nascer.
Assim, enquanto doula, acreditando profundamente no poder transformador do nascimento, pretendo contribuir com a minha capacidade de escuta, com o meu apoio e com a partilha do meu conhecimento para que possas tomar decisões conscientes e empoderadas, ao serviço da tua vida.